4. Conclusão

    Com a chegada da televisão, as mudanças na sociedade passaram a ser notórias e inegáveis.
   Ela se mostrou um veículo facilitador: imagens prontas, rápida assimilação do conteúdo, não havia necessidade de um raciocínio mais elaborado ou um esforço maior para compreender o que estava sendo transmitido.
   Esforços físicos também não eram necessários, pois do conforto do sofá era possível desfrutar a programação. Não era preciso gastar dinheiro, escolher horários, procurar companhia ou se arrumar.
   Bastava que o telespectador disponibilizasse um pouco do seu tempo, o que também não era um empecilho, já que as horas de trabalho ou a vida enfadonha já eram motivos suficientes pra sentar na frente da TV e sonhar um pouco com uma realidade bem mais bonita e também bem mais distante da que as pessoas viviam.
   Com tanto destaque dentro dos lares, logicamente as mudanças trazidas não poderiam ser ignoradas. De forma que os estudos sociais começaram a se voltar também para esse meio de comunicação, que se tornou mais presente nos lares até mesmo que as esposas ou maridos.
   Em meio a essas mudanças, existia na Alemanha um lugar onde estudiosos dedicavam seu tempo à compreensão das dinâmicas societárias. Era a Escola de Frankfurt. De onde, através de estudiosos como Horkheimer e Adorno, nasceu a Teoria Crítica e o conceito como cultura de massa e indústria cultural.
   A Teoria Crítica mostrou que as pessoas estavam se sujeitando às vontades dos meios de comunicação. Que não determinavam apenas o que eles iam assistir, mas, através do universo ilusório da televisão, determinavam também seu comportamento e, principalmente, seus hábitos de consumo.
   Assim como os estudos citados anteriormente, ao longo dos anos surgiram vários meios de abordar esse tema. Um deles foi o filme “Show de Truman – O Show da Vida”, que mostra claramente cada passo do planejamento da mídia a fim de manipular o telespectador:
   Primeiro podemos apontar os estereótipos, que são representações exageradas dos tipos aos quais os telespectadores já estão acostumados, para provocar identificação.
   O filme se cerca de elementos conhecidos pelo público, que o prendem ao contexto, despertando identificação.
   É o vizinho simpático, a esposa dedicada, a cidade invejável... Características presentes na vida de Truman e desejadas pelo telespectador.
   Depois, podemos citar os signos e os clichês. Os primeiros servem para abrandar situações que poderiam ser chocantes, e assim amenizar o desgaste diário ao qual as pessoas já estão acostumadas, proporcionando uma fuga de suas realidades.
   Os medos e dificuldades que Truman enfrentou ao longo da vida não abordaram nada que pudesse assustar o público, atrapalhando sua vontade de acompanhar o programa.
   Já os clichês são usados pela mídia para potencializar as emoções do público, levando-o a momentos de extrema alegria ou tristeza e envolvendo-o ainda mais na história.
   O grande clichê utilizado pelo diretor Christofer em Show de Truman foi o retorno de seu pai à história, em meio a características como presença do melhor amigo, neblina, palavras marcantes e abraço forte. Tudo minuciosamente elaborado para que as pessoas se prendessem cada vez mais à história, esquecendo-se de refletir a respeito e enxergar a manipulação exercida sobre eles mesmos.
   Todo esse universo é delicadamente construído para que as pessoas queiram tanto fugir da meio em que vivem, que sintam necessidade de consumir o estilo de vida mostrado através do aparelho televisivo.
   No filme, cada item do cenário era vendido, de forma que o intuito maior do programa não era entreter, e sim obter lucros. Isso é a indústria cultural. O fato de entreter é apenas um pretexto para vender, para seduzir as pessoas ao consumo.
   Durante o programa Show de Truman, personagens faziam exposição de produtos explicitamente ou de forma camuflada. Essa era mais uma forma de apontar características dos meios de comunicação de massa.
   O diretor Christofer representa muito bem o quanto as pessoas que elaboram a indústria cultural acreditam no poder que exercem. Pois ele age com total conhecimento do que está fazendo e plena consciência dos resultados que iria obter.
   As pessoas funcionavam como uma esponja, que apenas absorve o conteúdo passado, sem nenhum filtro.   Elas recebem a informação e respondem exatamente da forma como a mídia planejou.
   Horkheimer e Adorno chegaram, inclusive, a afirmar que era inútil esperar que as pessoas reagissem a esse sistema da mídia, pois elas já estavam psicologicamente acostumadas à manipulação.
   No entanto, o filme nos leva a questionar essa última afirmação. Pois durante todo ele os telespectadores vinham correspondendo exatamente ao que o diretor planejava. No entanto, no momento decisivo do show, eles discordaram de Christofer, torcendo a favor de que Truman deixasse o programa.
   Caso tivessem correspondido às intenções da indústria cultural, representada pelo papel do diretor, as pessoas teriam torcido e desejado que Truman continuasse preso naquela farsa, sem deixar de levar entretenimento às suas casas. E permitindo cada vez mais que eles fugissem de suas realidades.
   Porém, o telespectador não se enquadrou no esperado, negando a afirmação de Adorno e Horkheimer, agindo de uma maneira diferente da que a mídia determinou que eles devessem agir.
   Show de Truman, então, nos mostra que, por mais completa que a Teoria Crítica seja e por mais que ela nos mostre o comportamento da mídia em relação ao telespectador, e vice-versa, não é uma verdade absoluta.
   O filme nos leva a crer que as pessoas podem, sim, pensar por si mesmas e tomar um caminho diferente do que a indústria cultural determinou, se safando do poder de manipulação

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