2. Escola de Frankfurt e a Teoria Crítica

   A Escola de Frankfurt foi fundada em 1928, na Alemanha, por iniciativa de Félix Weil, filho de um importante negociante de grãos de trigo na Argentina.
   Sua primeira denominação foi Instituto para a Pesquisa Social, sendo que antes dele também havia sido cogitado Instituto para o Marxismo, pois os filósofos e cientistas sociais da escola adotavam as tendências marxistas do final dos anos 1920.
   Apenas em 1950. Horkheimer (diretor da escola desde 1931 e um dos principais filósofos), adotou Escola de Frankfurt como nome definitivo.
   A Teoria Crítica nasceu nessa escola com o intuito de investigar os fenômenos relacionados às forças sociais. Sendo assim, os autores objetivavam enfrentar as temáticas novas, provenientes das dinâmicas societárias da época, como a industrialização, o autoritarismo e os conflitos sociais:
   Historicamente, a teoria crítica identifica-se com o grupo de investigadores que freqüentou o Institut für Sozialforschung, de Frankfurt. (...) Este Instituto torna-se um centro importante, adquirindo a sua identidade definitiva com a nomeação de Max Horkheimer para seu diretor. Com o advento do nazismo, o Instituto (conhecido na época como Escola de Frankfurt) é obrigado a fechar e os seus representantes principais emigram, primeiro para Paris, depois para várias universidades americanas e, finalmente, para o Institute of Social Research, em Nova Iorque. Reaberto em 1950, retoma a sua atividade de estudo e pesquisa, prosseguindo na atitude teórica que o tinha distinguido desde o início e que o motivara a sua originalidade, isto é, na tentativa de fundir o comportamento crítico nos confrontos com a ciência e a cultura com a proposta política de uma reorganização racional da sociedade, de modo a superar a crise da razão
(WOLF, 2002, p. 82)

   A sociedade, após várias mudanças e inovações, começa a levar uma vida que pode ser dita como “diminuída”. Ela pensa menos, vive menos e absorve mais, assumindo um estado de imobilidade cultural e ideológica que passou a ser questionado pelos estudiosos da Escola de Frankfurt.
   A escola rejeitava os ideais que passaram a ser impostos às pessoas e começou uma tentativa de disseminar uma prática crítica nas ciências humanas (história, psicologia, sociologia, etc.).
   Nesse meio tempo, a televisão foi difundida, iniciaram-se as mudanças sociais citadas anteriormente e o marxismo, a razão e a sociedade abriram cada vez mais espaço para críticas e trabalhos.
   Foi então que, em Dialética do Esclarecimento, texto iniciado em 1942, nasceu o termo “indústria cultural”. Nesse trabalho, Adorno e Horkheimer descreviam a transformação do
progresso cultural no seu inverso, a partir de análises da sociedade americana, entre os anos de 30 e 40:
   Nas notas anteriores à edição definitiva da Dialética do Iluminismo, empregava-se o termo „cultura de massa‟, A expressão foi substituída por „indústria cultural‟ para o suprimir, e desde o início a interpretação corrente é a de que se trate de uma cultura que nasce espontaneamente das próprias massas, de uma forma contemporânea de arte popular.
(WOLF, 2002, p. 85)

   Por cultura de massa pode-se entender tudo aquilo que é produzido para atingir a maioria, sem ser intelectualmente filtrado. É o oposto de uma cultura rica e erudita. Não há um comportamento cultural que parta das massas, pelo contrário, esse comportamento é imposto às pessoas através de gostos, necessidades, estereótipos e, consequentemente, baixa qualidade, pois interessa apenas que o público seja atingido pelo que foi planejado, sem que ele tenha tempo para pensar.
   Foi a esse mercado de massas que se deu o nome de indústria cultural, um sistema onde “cada setor se harmoniza entre si e todos se harmonizam reciprocamente” (HORKHEIMER – ADORNO apud WOLF, 2002, p. 85).
   A partir do momento em que a eficácia do produto, seu consumo, foi priorizada, a palavra qualidade passou a ser praticamente ignorada, assim como tudo que era novo, a fim de não correr riscos de falhar. É oferecido algo aparentemente novo, mas que, na realidade, nada mais é que uma outra representação de algo que não muda.
   Esse esquema de imposição que passou a ser seguido pela mídia obtinha sucesso. O indivíduo deixou de tomar decisões autonomamente. Seus conflitos internos eram anulados, pois ele não precisava mais pensar a respeito de suas dúvidas. Aliás, as dúvidas nem precisavam mais existir, porque a indústria cultural fazia justamente o papel de mostrar prontamente o que deveria ser decidido pelo consumidor:
   Aquilo a que outrora os filósofos chamavam de vida, reduziu-se à esfera do privado e, posteriormente, à do consumo puro e simples, que não é mais do que um apêndice do processo material da produção, sem autonomia e essência próprias
(ADORNO apud WOLF, 2002, p. 86)

   Dessa forma, a indústria cultural foi tirando a individualidade do consumidor. Este, por sua vez, foi consolidando-se um fantoche dessa indústria.
   Essa dominação segue uma lógica onde tudo que é comunicado foi criado unicamente com o objetivo de seduzir, onde o efeito oculto da mensagem pode ser mais importante que o que está explícito e, no entanto, o telespectador não pode se dar conta do que está
acontecendo. A mensagem deve penetrar em seu cérebro, rompendo qualquer resistência ao consumo, antes que a pessoa perceba o controle que está sendo exercido sobre ela:
   O espectador não deve agir pela sua própria cabeça: o produto prescreve todas as reações: não pelo seu contexto objetivo – que desaparece mal se volta para a faculdade de pensar – mas através de sinais. Qualquer conexão lógica que exija perspicácia intelectual, é escrupulosamente evitada.
(HORKHEIMER – ADORNO apud WOLF, 2002, p. 88)

   A soma dessas ações e a irradiação dessas propostas acabam se instalando numa sociedade complicada e moderna que, sujeita a tantas mazelas, se agarra aos clichês e estereótipos impostos pela indústria cultural, como se eles preenchessem algum vazio e ordenassem a vida sem direção dessa sociedade.
   A teoria crítica, portanto, é a base do estudo sobre indústria cultural e os meios de comunicação em massa e, exatamente por esse motivo, foi escolhida como ponto central para análisar do filme Show de Truman e direcionar este trabalho.

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